Carta
Aberta Aos Professores
Agosto de 2015.
Fruto de uma época marcada
pelo individualismo, os desejos egoístas e a preocupação cada vez menor com o
bem-estar alheio são marcas do nosso atual momento histórico que afetam
diretamente tanto as relações familiares quanto as sociais. Lamentavelmente, é
comum vermos esta postura individualista também no âmbito educacional que, ao
invés de favorecer o desenvolvimento de uma sociedade democrática regida pela
criticidade, transforma o estudante em um cliente especial, que deve estar
satisfeito e sempre ter razão, arruinando, desse modo, a respeitabilidade do
professor, sempre culpado por todo fracasso pedagógico desses falsos estudantes
que vivenciam uma existência medíocre, sem qualquer senso crítico ou
responsabilidade e em um estado de permanente infantilismo.
A banalização da figura do
professor o torna vítima constante de assédio moral e de pressões
institucionais por parte da secretaria de educação, direção escolar e
coordenação para que ele, professor, possa satisfazer incondicionalmente todos
caprichos contidos em uma prática pedagógica espetacularizada, sobretudo na
rede municipal de ensino, que tem por objetivo tão somente agradar os alunos
pobres que, por sua vez, enxergam o espaço educacional somente como local de
lazer ou ponto de encontro social considerando a vida estudantil um enfado insuportável que mal os ensina a
soletrar e a escrever precariamente. O professor, neste contexto, encontra-se
na necessidade de disputar a atenção de alunos “tantalizados” pelo celular e
por outros apetrechos eletrônicos. Para tanto, é necessário que o docente se
transforme em animador de auditório ou quem sabe até em palhaço uma vez que se
tornou “inimigo” das mentes fechadas, prisioneiras de um universo limitado pela
tela, para onde suas próprias vidas foram deportadas, e que só conhecem
interlocutores fictícios ou virtuais.
Além disso, são cada vez
mais frequentes os casos em que alunos descarregam suas frustrações existenciais nos professores
através de injúrias ou mesmo de agressões físicas sem que quaisquer medidas
corretivas sejam adotadas para instituir o devido respeito para com a categoria
docente. De forma absurda, porém, quando é o professor que adverte ou mesmo que
“exagera ”em sua “indigna-ação” pelo vandalismo e desrespeito dos alunos, logo
aparecem coordenadores e/ou diretores, tachando este professor como carrasco ou o
assediando com interrogatórios humilhantes como se fossem verdadeiros advogados em defesa dos seus
“excluídos clientes”, eternas vítimas da sociedade, que ainda não têm a exata
noção de suas atitudes e que, enfim,
precisam ser ajudados, sobretudo, com notas gratuitas, dadas pela participação deles em eventos
“culturais e de lazer” onde imperam a deseducação e o mau gosto de músicas
marcadas pela imoralidade; cabendo ainda ao professor apadrinhar e se
responsabilizar ,até mesmo por maus alunos, e contribuindo, inclusive,
financeiramente, como se o seu salário fosse ao menos compatível para bancar
tais disparates.
Neste comportamento
clientelista que marca a ideologia de um “Brasil Carinhoso”, a juventude
alienada e rebelde mostra toda a fragilidade de sua vida familiar e também a
falta de aptidão educacional de seus pais, autoritariamente frouxos, que
abandonam seus filhos à própria sorte ou julgam que educá-los é obrigação
exclusiva do professor, enquanto mergulham nos
vícios ou se preocupam acima de tudo com a manutenção de seus status
pessoais e, portanto, só aparecem na escola para pegar o boletim ou para reclamar
dos professores que “magoam” seus inocentes filhinhos, mesmo quando estes não
tenham se comportado de maneira adequada a quem frequenta uma instituição
educativa. O professor, assim, é novamente objeto de inquisição, pois o cliente
jamais pode ser constrangido por quem quer que seja. Por outro lado, na
dimensão político-partidária, a educação tornou-se uma mercadoria de grande
rentabilidade, um filão efervescente cuja exploração se dá durante as eleições;
no levantar das bandeiras, nas caminhadas e carreatas da vida de onde surgem os
secretários de educação e outros membros que dirigem as degradadas instituições
educacionais públicas. Daí surgem também professores que “são do grupo”, sendo
que muitos, de todas essas categorias, não apresentam a devida competência para
exercer os cargos que ocupam somente por viciosa agregação política ou por
apadrinhamento e nunca por verdadeira meritocracia.
Como reflexo desse cultural
fisiologismo, os professores que lutam por seus direitos como pessoas autônomas
e livres; enfim, como cidadãos e não como súditos, que significa sob o dito de
alguém, são novamente censurados pelo “seu mal!” ou rotulados como “azedos”,
ultrapassados e até soberbos, no sentido
pejorativo, é claro; são também substituídos na disciplina que lecionam para
“arrumar a vida” de colegas aliados de secretários ou diretoras e ,por fim, excluídos através da
forma de tratamento diferenciada, tanto pela direção quanto por parte dos
membros do corpo docente. Isto, quando não é possível removê-lo da escola em que atuam como persona
non grata ou como forma de perseguições políticas.
Os professores-cidadãos,
certamente, são tratados dessa forma, porque ao buscarem o esclarecimento,
lutando contra tudo, contra todos e até contra motivos pessoais egoístas,
contrariam muitas pessoas, inclusive colegas de profissão que, em uma nociva
prática política, aprenderam a ver quem luta como inferior, atrasado ou selvagem!
Em suma, como alguém ”não-igual, digno de uma boa “correiada” no lombo para
aprender que “Manda quem pode...”Estes fanáticos ou ambiciosos indivíduos,
incapazes de se re-educarem ,ainda não se deram conta de sua menoridade,
escolhida livremente, que os fazem perder a capacidade de fazer uso do entendimento como
pessoas esclarecidas que agem e pensam sem a direção de um suserano, ou senhor.
Por este motivo, reduzem os
que lutam pelo bem-estar e pelos direitos coletivos a uma coisa: a não seu
semelhante! a “apenas” um professor! Infelizmente, em sua tosca cegueira eles
desconhecem que o principal elemento na figura humana do professor é o cidadão
e que se o professor não tiver em si a figura forte do cidadão, acaba se
tornando instrumento para qualquer dominação, seja ela democrática ou
totalitária! Paradoxalmente, são estas alienadas criaturas que têm vez e voz na pátria
educadora do Brasil!
Por: Valter Silva – Pedagogo
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